Nenhum jovem hoje sabe o que vem a ser "alisar banco", termo
abusado por pai zeloso da honra da filha, bem como odiado por casais enamorados
décadas atrás, cuja obrigação de casar era determinada pela boa ou má intenção
do rapaz, avaliação que o pai da moça fazia de acordo com o tempo gasto no
banco. Se percebia que o futuro genro estava com enrolação, ou seja, “alisando
banco”, cuidava de dar um prazo para que cassassem logo ou, do contrário,
caísse fora. E assim, mal completava 14, 15 anos, jamais chegava aos 18 sem um
pretendente, a jovem, para não ficar “falada” nem ser chamada de “moça-velha”,
tinha que acolher, se não a vontade do namorado apressado para ter a posse de
uma mulher, a escolha apressada do pai, que não admitia filha “encalhada” dando
despesa e o que falar à vizinhança. A minha geração (1960) está entre as
primeiras a romper com o banco, já alisado além da conta por castos e românticos
amantes. Começava aí outra história, mais livre e com menos culpa. Era a época
dos hippies, Beatles, “paz e amor”, da liberdade sexual, pelo menos na Europa e
Estados Unidos. Por aqui tínhamos a versão nativa com a jovem guarda, estilo do
qual vi os meus irmãos mais velhos e seus amigos fazerem parte. A minissaia
tornou-se o inferno na minha casa. Todos os dias meu pai ameaçava cortar com a
faca o minúsculo vestido da minha irmã. Meu irmão resolvera não mais cortar os
cabelos, usava calças boca de sino, sapato cavalo de aço e ouvia rock. Alisar
banco em casa de pai brabo e casar à força? Nunca mais. Um pouquinho mais adiante, final dos anos
sessenta, e toda a década de 1970, as relações sensuais entre homem e mulher
haviam mudado bastante. A sala de
visitas agora é do aparelho de TV e de duas espreguiçadeiras onde os donos da
casa cochilam e assistem novelas enquanto os filhos estão na rua. Dessa época
ficou a lembrança gozada do “sarro” tirado na porta da igreja, no escurinho do
cinema, na árvore da praça, ou no canto do muro da casa onde os pais dormiam.
Claro, escondido. Estes, agora “civilizados” por terem deixado a roça e mudado
com a família para a cidade, vigiavam de longe com os olhos na hora e a mão na
chibata. Mas isso é assunto para outra crônica. Voltemos ao banco. Pois bem,
era regra incontestável o namorado chegar cedo da noite na casa da amada, coisa
das sete horas, e ficar na sala de visitas de frente para os pais da moça até o
momento em que o dono do pedaço começava a bocejar e resmungar. A dona da casa,
cansada das tarefas diárias e da incômoda vigília, pois sabia por experiência a
agonia que é namorar sem achegar, contava mais de dez cochilos quando o pêndulo
do relógio da parede dava 21 batidas. O rapaz levanta da namoradeira, alisa as
calças, pega o chapéu, dá boa noite e some no pé do vento.
Ana Barros
Natal, 04 de maio de 2015.
Natal, 04 de maio de 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário