sábado, 28 de fevereiro de 2015

FRIO



Caminhávamos na rua movimentada quando você, cheio do orgulho de quem subiu a torre e lá permaneceu mudo e imóvel, obrigou-me conhecer a mulher que passava ao lado sem que ninguém mais a visse a não ser você, amante de tons cinza e da Avenida elegante com suas mulheres e homens cheirando à toalete inglesa. Eu, que cheirava a sol e tinha amarelo o sexo e os pés gretados da ruela vulgar, aproximei o vazio e cumprimentei cúmplice e falsa a mulher ensimesmada na indiferença que tudo viu e por isso carimba com nada os gestos blasé. Disse que não compreendia. Ao contrário da mulher desmaterializada, eu carregava um peso e pedia para que fosse achado. Eu trotava e pendia para um lado. “qual?”, você quis saber desinteressado. “já é tarde. outro dia. talvez.”, respondi sem mais interesse e os deixei. Você e ela seguiram sem ser vistos.

Ana Barros
Natal, 20 de fevereiro de 2015.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

ALTAR



o meu altar exige a cor a forma e o silêncio
o meu altar é a prece do esquecido
canto que traz o instante
passado e não saudade
ausência e não queimado
amarelo porque é Sol

Ana Barros
Natal, 18 de fevereiro de 2015.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

ATMA



O silêncio é a fala
Que cala no solitário
Move à distância imposta
Querer mais que maldade
O tempo passa e mata – as flores
Pois entre um ontem e um hoje
Deixa sentir que é gozo
Alma mais que pecado
Essência sem ser saudade

Ana Barros
Natal, 10 de fevereiro de 2015.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

POEMA DA CARNE



a tua carne é verbo a grafar com o suor da pele:
tem poesia no meu corpo
entrega sem escrúpulos à cega forma sem forma
de fazer versos longe da moral que espia
rasgamos nossas vestes, vestimos nossas lupas
ampliamos cem mundos aonde buscamos sonhos
mas a sanha esmaece e é hora de voltar
ao tempo que emudece
à muralha que separa...
de um lado você goza e ri e faz glosa
eu do outro vivo e escrevo e ando e amo e ando e amo e...
... silêncio... silêncio... silêncio...
.....................................................................................................
gozo – de novo


Ana Barros
Natal, 05 de fevereiro de 2015.