segunda-feira, 21 de setembro de 2015

MODA: QUEM COMPRA E QUEM REPRODUZ

Podemos contar a história de uma época nos detendo em fotografias que foram contemporâneas e que se tornam clássicas pelo conjunto de signos característicos da sociedade em evidência. É comum achar graça da moda passada, ridicularizar excessos ou ausência de panos, chapéus, bengalas, bigodes, costeletas, saiotes, espartilhos quando somos envolvidos pela atmosfera atual, seja esta tão ou mais artificial quanto à anterior. Achamos sempre que o que usamos no momento é o melhor, o mais civilizado e isento de ridículo, pois que é presente altamente industrial, tecnológico. Esquecemos, porém, que toda sociedade tem o seu presente e a sua tecnologia. Dos fios mais rústicos aos tecidos mais elaborados, do sabão mais artesanal ao sabonete delicado, homens e mulheres estiveram e estão sempre envolvidos na criação de formas, cheiros e cores para se adornar e chamar atenção para si. Engana-se quem acha que a moda do presente, por ser pensada por especialistas qualificados em universidades de moda e estilo, não é uma reprodução de ontem e que amanhã vai ser observada como descartável, risível. Olhando a foto que ilustra o texto não podemos deixar de admirar a elegância e postura aristocrata do Senhor que se olha no espelho do porta-chapéus, móvel tão fora de moda quanto os acessórios nele postos, chapéu e guarda-chuva. No entanto, a imagem em si é tão rica de símbolos da classe a qual pertence o Senhor, quanto qualquer fotografia tirada hoje de um homem que fizer parte da mesma classe social que a do fotografado. Haverá para ele sempre o espelho da moda, os acessórios, o tecido, o móvel, o perfume, a gravata e o terno adequados ao seu poder econômico. A moda, transitória e dinâmica como todos os fenômenos sociais, vai ser substituída por outra nem sempre mais interessante que a anterior, mas o homem será o mesmo em sua necessidade de afirmar o que é, o que tem e o que cria. A moda, ultrapassada, ridícula ou não, é a história de vida deste homem. Os de pouco quinhão que querem a todo custo acompanhar as tendências da estética do momento, contentar-se-ão com a imitação banalizada que promete a todos igualdade no mundo das aparências. Em relação aos primeiros, os que definem a moda, a admiração, a inveja, a cópia por aqueles que são obrigados pelo trabalho renovar ciclicamente os desejos de quem dita a “última moda”. Porém, basta olhar atentamente as fotografias que ilustram livros e revistas de História para percebermos, pela postura orgulhosa, vestimenta e acessórios dos escolhidos por autor e editora, quem compra e quem reproduz moda.
Ana Barros
Natal, 27 de julho de 2015.
Foto do perfil (Facebook) de Lenira Xavier