quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Fake news existem desde sempre


“Aspiro à minha obra”. Quando se trata de Nietzsche,
esta máxima pode se referir tanto à obra escrita
quanto à sua vida-obra desse andarilho
subjugado pelo pensamento e pela liberdade interior."


Notícia falsa, calúnia, mentira, falácia... são várias as traduções de "fake news", termo contemporâneo usado para qualificar informações duvidosas. Podemos achar que a "fake" é novidade em nossa vida tomada pelas redes sociais. Mas não é. É novidade apenas o meio disseminador, o veículo: internet, Whatsapp e demais inovações tecnológicas das mídias. Desde o princípio da linguagem e dos sinais que mulheres e homens distorcem a comunicação, inventam e reinventam de acordo com os seus interesses e os interesses de seu grupo econômico, político ou religioso. Trago aqui um exemplo de "fake news" famoso e que ainda causa muita polêmica e indignação por ter sido cometido contra um dos maiores filósofos do século 19, Friedrich Nietzsche. Pois bem, a sua irmã, casada com um nazista e, consequentemente também seguidora de Hitler, adulterou a obra do escritor beneficiando assim a ideologia a qual seguia com o companheiro numa colônia construída pelos dois, no Paraguai, para cultivo de uma "raça pura". Odiado e difamado entre intelectuais, universidades e toda uma massa de pensadores, jornalistas, religiosos (muitos destes, até hoje), ignorantes que acreditaram nas falsas teorias de Nietzsche em favor do nazismo, o filósofo só foi biografado e reconhecido como ferrenho, duro defensor das liberdades do indivíduo muitos anos depois, já no avançado século 20. Como jornalista e defensora das liberdades individuais, nas quais não cabem o ódio e o preconceito, desejo fortemente que usemos essas mesmas ferramentas instantâneas da tecnologia da comunicação para desfazer as "fake news". Estas, que ameaçam nossa vida e a vida de milhões de pessoas que, por serem diferentes daquelas que pregam a hegemonia do "correto", da "ordem", da "família", do "bem", do "bonito", do "higiênico" e dos "valores da pátria", são hoje as responsáveis pela violência, pelo desprezo, pelo encarceramento e morte praticados pelos mesmos agentes que levaram milhões de judeus, ciganos, gays, mulheres e deficientes à execução. 

Ana Barros
Natal, 11 de outubro de 2018