segunda-feira, 17 de junho de 2013

ONDE ENCONTRAR UM PRETENDENTE





Nestes dias de santo casamenteiro a busca por um noivo faz com que encalhados e encalhadas reforcem a criatividade para convencer divindades a fazer milagres de alcova. Mas longe das crendices e superstições, tem quem ache que pretendentes se encontra dependendo da hora e do lugar não havendo portanto necessidade de incomodar os santos com pedidos mesquinhos e interesseiros. Já ouvi dizer que um dos melhores lugares para uma profissional bem sucedida encontrar o seu homem é o supermercado aos sábados pela manhã quando o divorciado, viúvo ou solteirão faz suas compras depois de uma semana de trabalho nalgum escritório de advocacia, hospital, banco ou outro local tarimbado onde brilha o ouro dos cartões de crédito. Porém, a colega de trabalho Marília Cláudia me disse que bom mesmo é ir ao Parque das Dunas às tardes de domingo, quando os pais classe média e separados saem para curtir os filhos pequenos. Não, rebati sistematicamente, é muito trabalho ter que acordar logo cedo no final de semana, sair com a cara de solteirona ainda amassada para conquistar um homem também de cara amarrotada e entediado por ter de ir às compras. O segundo caso? nem pensar! Ter que sair de casa no domingo à tarde para laçar um homem que corre atrás de crianças sujas e mal educadas? Meu Deus, seria o fim da coluna já tomada pela osteopenia.

Na academia de ginástica de Neópolis que frequento e que tem solteironas que nem praga, já me aconselharam procurar um namorado em Gilson Bufê, pois é lá onde se encontra a maior demanda de divorciados e encalhados ricos por metro quadrado de Natal. Uma das companheiras de peso para evitar o babado dos braços afirmou categórica: “Você vai encontrar juiz, delegado de polícia, empresário, promotor de justiça”... Fiquei de pensar no caso uma vez que Gilson Bufê fica quase parede meia com a minha. Não custava nada dá uma aspirada na testosterona exalada por lá. Mas, pensando bem... será? O tempo passou e eu esqueci da sugestão das bondosas carolas do padre Nunes, muito preocupadas em me ver sempre desacompanhada e desejosas de que eu me acertasse com um desses encalhados ricos e fosse deixar oferendas a Deus na missa de cura e libertação de Neópolis.

Pois bem, o cabelo já estava grande e desbotado, era tempo de ir ao salão da amiga Tetê, lá no Beco da Lama. Como sempre, ela me recebeu com a mesma frase: “Não me conformo em vê-la tão formosa e só”. E, penteando os meus cabelos curtíssimos, “vamos hoje à minha Igreja, lá você vai encontrar um amor, prometo”! “Pronto, começou tudo de novo”, pensei sorrindo. E foi aí que fiquei sabendo que o melhor canto para se arranjar um homem em Natal não é o supermercado, nem o Parque das Dunas, tão pouco Gilson Bufê, mas a Igreja de Tetê, a Universal do Reino de Deus. Mais que depressa ela me passou um cartão com o dia e a hora em que os “homens de Deus” vão ao templo em busca de uma “mulher de Deus”. Enquanto cortava e pintava minhas mechas, Tetê foi contando o ritual dos encalhados e encalhadas no seu templo. “Mas Tê”, disse carinhosamente, “eu não sou “uma mulher de Deus” e gosto de homens do mundo, desses mesmos daqui do Beco da Lama”... “Não! você tem que arranjar é um homem purificado, limpo, um homem de Deus. Esses da rua não prestam, são lixo”, disse cheia de convicção doutrinada. “Mas Tê”, insisti no assunto para conhecer melhor o que vinha ser “homem de Deus”, “quer dizer que a Universal arrebanha um monte de lixo para reciclar, ou seja, os homens purificados nada mais são do que lixo colhido do monturo”? E ela, “Isso mesmo, mas tudo tem que ter um esforço”. Aí foi que fiquei sabendo que o “esforço” ao qual ela se referia era a oferenda para a Igreja. Ou seja, aquele que quiser casar para a eternidade é só ir à Universal do Reino de Deus às quintas-feiras durante o dia todo entrando pela noite, levar uma contribuição, quanto mais alta mais chances terá de Deus colocar o homem ou mulher purificados no caminho dos esforçados esposos virtuais.

Chegou ao fim o trato do meu cabelo. Me contorci diante do espelho redondo para ver todos os ângulos da cabeça agora ruiva, disse para concluir o papo: “Tetê, querida, eu nem tenho dinheiro para reciclar o meu lixo nem para comprar um marido reciclado. Por isso, quero o pastor! Ele já está pronto, é homem de Deus, purificado e rico. Pronto, quero o pastor!”

Ana Barros

sábado, 15 de junho de 2013

DONA MORTA


Eu era menina e saía
De casa em direção à Escola
Onde aprendi com Austeridade
Palmatória e giz de cal o que Heitor
Aprende no laptop
Deslizando o dedo de leite ainda
Na tela mágica
Hoje ela e também ele
Entre os livros e on-line
Eu que passo com os velhos fólios
E o imaginário de dona Morta

Ana Barros