Caminhávamos na rua
movimentada quando você, cheio do orgulho de quem subiu a torre e lá
permaneceu mudo e imóvel, obrigou-me conhecer a mulher que passava ao lado sem
que ninguém mais a visse a não ser você, amante de tons cinza e da Avenida
elegante com suas mulheres e homens cheirando à toalete inglesa. Eu, que
cheirava a sol e tinha amarelo o sexo e os pés gretados da ruela vulgar, aproximei
o vazio e cumprimentei cúmplice e falsa a mulher ensimesmada na indiferença que
tudo viu e por isso carimba com nada os
gestos blasé. Disse que não compreendia. Ao contrário da mulher
desmaterializada, eu carregava um peso e pedia para que fosse achado. Eu
trotava e pendia para um lado. “qual?”,
você quis saber desinteressado. “já é tarde. outro dia. talvez.”, respondi sem
mais interesse e os deixei. Você e ela seguiram sem ser vistos.
Ana Barros
Natal, 20 de fevereiro de 2015.
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