sábado, 28 de fevereiro de 2015

FRIO



Caminhávamos na rua movimentada quando você, cheio do orgulho de quem subiu a torre e lá permaneceu mudo e imóvel, obrigou-me conhecer a mulher que passava ao lado sem que ninguém mais a visse a não ser você, amante de tons cinza e da Avenida elegante com suas mulheres e homens cheirando à toalete inglesa. Eu, que cheirava a sol e tinha amarelo o sexo e os pés gretados da ruela vulgar, aproximei o vazio e cumprimentei cúmplice e falsa a mulher ensimesmada na indiferença que tudo viu e por isso carimba com nada os gestos blasé. Disse que não compreendia. Ao contrário da mulher desmaterializada, eu carregava um peso e pedia para que fosse achado. Eu trotava e pendia para um lado. “qual?”, você quis saber desinteressado. “já é tarde. outro dia. talvez.”, respondi sem mais interesse e os deixei. Você e ela seguiram sem ser vistos.

Ana Barros
Natal, 20 de fevereiro de 2015.

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