Tomei o gole de café com as mãos
trêmulas e acompanhei a conversa fingindo nada saber para que A., com as imagens
a pular na frente do óbvio, falasse o que eu já sabia, porém, para encobrir nossas
baixezas, recorre sempre à explicação necessária, não a mim nem a ela, mas à
farsa que obriga certeza. Naquele dia à pergunta “G., o que é um artista?”, A. aproximou o rosto e fixou
nos meus olhos maus de bêbado. Pensei e não disse: “nós dois. Você, uma assassina. Eu, um suicida”. Sem me desviar do olhar que ansiava resposta atravessei
a sala e desapareci. É certo que retorno alguns minutos depois ainda mais bêbado
e com a resposta babando ódio: A. joga a interrogação no vento como quem lança dardos
mortais. Mais que qualquer um ela sabe o que é um artista. E é por saber que tem a vidência de um deus e a
soberba de um tirano. Enquanto eu, depravado e longe, dou à sombra vício e maldade,
evasão e nulidade.
Ana Barros
Natal, 02 de março de 2015.
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