sábado, 18 de outubro de 2014

UM DIA SEREMOS TODOS LÁ DO CAFUNDÓ



Hoje escrevo para aqueles que chegam, como eu, naquela fase de cuidar dos pais velhinhos, ou por doença, ou por dedicação às horas, poucas, que restam para curtir a velha nova criança. Já passamos por ser filho independente e rebelde, pais dedicados, avôs amorosos e, de novo, filho, desta vez, atento e cheio de um doce e generoso amor, que não sabíamos tão capazes de encontrar em nós ontem egoístas e individuais. Mas é inevitável, mais tarde seremos todos do cafundó da emoção do outro. Agora eu sou do ontem de Tutu, que faz 78 anos em novembro, porém resolveu antecipar para 17 de outubro. O motivo de antecipar a velhice? Ora, claro que só poderia ser porque seu ídolo Agnaldo Timóteo estaria na Casa de Show Gilson Buffet. Lá em casa, jamais deixamos de ouvir no rádio e no bolachão as belas canções interpretadas por Agnaldo. Romântico, cantor de todo “Dia das Mães” e representante dos apaixonados magoados, como Tutu até hoje é, sem perdão nem compaixão pelo homem que encheu a sua cabeça de chifres, Agnaldo também encheu os meus ouvidos de menina sonhadora com as suas lindas melodias, as quais eu cantava varrendo a casa ou esfregando o chão de bunda pra cima: “Dei uma volta ao passado, revirando os meus guardados, uma carta encontrei...” O tempo passou. As influências musicais de Tutu ficaram para trás, mas o galã negro com vozeirão de tenor que canta o amor permaneceu no coração da jovem sofrida, uma Santa Teresa de Ávila no gozo eterno sem o amado. Fomos então ver o garboso ídolo de cabeleira negra (?) e espessa (seria peruca?) apesar dos 78 também. Delírio para Tutu e correria dos dois filhos e da nora no salão para captar as melhores imagens na tietagem do belo.

Ana Barros
Natal, 18 de outubro de 2014.

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