Hoje escrevo para aqueles
que chegam, como eu, naquela fase de cuidar dos pais velhinhos, ou por doença,
ou por dedicação às horas, poucas, que restam para curtir a velha nova criança.
Já passamos por ser filho independente e rebelde, pais dedicados, avôs amorosos
e, de novo, filho, desta vez, atento e cheio de um doce e generoso amor, que
não sabíamos tão capazes de encontrar em nós ontem egoístas e individuais. Mas
é inevitável, mais tarde seremos todos do cafundó da emoção do outro. Agora eu sou
do ontem de Tutu, que faz 78 anos em novembro, porém resolveu antecipar para 17
de outubro. O motivo de antecipar a velhice? Ora, claro que só poderia ser porque
seu ídolo Agnaldo Timóteo estaria na Casa de Show Gilson Buffet. Lá em casa, jamais
deixamos de ouvir no rádio e no bolachão as belas canções interpretadas por
Agnaldo. Romântico, cantor de todo “Dia das Mães” e representante dos apaixonados
magoados, como Tutu até hoje é, sem perdão nem compaixão pelo homem que encheu
a sua cabeça de chifres, Agnaldo também encheu os meus ouvidos de menina
sonhadora com as suas lindas melodias, as quais eu cantava varrendo a casa ou
esfregando o chão de bunda pra cima: “Dei uma volta ao passado, revirando os
meus guardados, uma carta encontrei...” O tempo passou. As influências musicais
de Tutu ficaram para trás, mas o galã negro com vozeirão de tenor que canta o
amor permaneceu no coração da jovem sofrida, uma Santa Teresa de Ávila no gozo
eterno sem o amado. Fomos então ver o garboso ídolo de cabeleira negra (?) e
espessa (seria peruca?) apesar dos 78 também. Delírio para Tutu e correria dos
dois filhos e da nora no salão para captar as melhores imagens na tietagem do belo.
Ana Barros
Natal, 18 de outubro de
2014.
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