Gravar o próprio
nome com imagens de coração, flechas, flores, ninfas
e Cupido em
tronco de árvore já foi tão comum quanto é hoje tatuar
no corpo o nome
do amado ou da amada sobre fundo paisagístico
semelhante aos
mais antigos motivos e arabescos. Quem viveu no interior
entre os animais
e as plantas e saboreou a magia do canivete rasgando os
veios da madeira
fazendo surgir um nome, dois corações enamorados,
sabe o que
significa marcar o tempo com o amor e acreditar que este
cresce no mesmo
sentido da arvore, para cima. Um grande engano, pois,
se a casca não
se regenera e encobre a inscrição, a gravação permanece
indefinidamente
no mesmo lugar.
Os primeiros
registros da prática de escrever em árvores surgiram com
os colonizadores
portugueses e espanhóis, cujas expedições deixavam o
seu marco por
onde passavam com os nomes dos viajantes eternizados em
troncos robustos
como baobás. É fato que não faziam por romantismo nem
por vaidade
pessoal, mas tão somente para assegurar à Coroa o domínio da
terra
conquistada, o que não é totalmente diferente dos amantes que gravam
seus nomes, em
árvores ou corpos, na intenção de fixar na matéria sólida o
que a
subjetividade encobre no invisível afeto, mas que os amantes fazem
questão de
exibir aos olhos do outro da forma mais artística e de acordo
com a sociedade
na qual vivem.
Igualmente à
tatuagem que marca o outro na carne do outro, a gravação
na casca da
árvore tem o poder de expor o tanto de pertencimento que existe
na relação a
dois, ou mesmo na relação do homem com a natureza que o
cativa. Há
relatos de pessoas que voltam ao local onde deixaram sinais de
sua passagem
apaixonada, reencontrando a inscrição no mesmo lugar e em
perfeito estado
não fosse a secura do corte ter sulcado a árvore velha. Corte
tão sem vida
quanto o amor gravado no tronco.
Ana Barros
Natal, 29 de outubro de 2014.