quinta-feira, 8 de março de 2018

Hoje ganhei xananas


Corro na pracinha. Dia sim, dia não encontro os amigos ao longo do passeio de dois mil metros quadrados. Amigos, todos, conquistados e deixados ali mesmo, perto das árvores, como eu também sou deixada. Seu Lamuel é um deles, já é bem idoso, mas faz suas caminhadas e é o responsável solitário pelo plantio de muitas árvores, frutíferas e não, do espaço. Há dois meses aluguei dele a casa na qual moro atualmente e encontrei um pedaço de chão à minha espera, cheio de matinhos e graminhas cultivados por ele. Pois não é que Seu Lamuel ama e protege o mato! Mas não me espantei: eu também gosto de mato. Me mudei e passei a contemplar as daninhas da janela da cozinha com o mesmo respeito que se deve ter por qualquer vegetação nativa. Em pouco tempo aquele espaço sem cimento passou a ser habitat das lagartixas gordas que passeiam por todos os cômodos da casa sem me incomodar, nem sujar. E o meu senhor dono da casa captando que somos semelhantes, perguntou-me alguns dias atrás: "você gosta de xananas?" "Sim!", respondi interessada. "Pois vou deixar umas pra você plantar no jardim." Até então não sabia que alguém plantava muda de Xanana, a flor oficial de Natal que nessa época de chuvas cobre canteiros e beiras de calçadas de lençóis da florzinha albina. Seu Lamuel planta, e acha elas lindas e quer dividir o seu prazer estético com a nova inquilina. E hoje, Dia internacional da mulher, ao abrir os portões dei de frente com o ramalhete de xananas que o senhor atento à flor, para a qual poucos se dão o trabalho de olhar antes de meter a enxada em suas raízes, havia enfiado pelas grades. Jamais recebi presente tão encantador, e de um senhor cujo interesse é tão somente partilhar comigo a graça de ser belo e comum como é a flor de Xanana.

Ana Barros
Natal, 08/03/2018.



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