Corro na pracinha. Dia sim, dia não encontro os amigos ao longo do
passeio de dois mil metros quadrados. Amigos, todos, conquistados e deixados
ali mesmo, perto das árvores, como eu também sou deixada. Seu Lamuel é um
deles, já é bem idoso, mas faz suas caminhadas e é o responsável solitário pelo
plantio de muitas árvores, frutíferas e não, do espaço. Há dois meses aluguei
dele a casa na qual moro atualmente e encontrei um pedaço de chão à minha
espera, cheio de matinhos e graminhas cultivados por ele. Pois não é que Seu
Lamuel ama e protege o mato! Mas não me espantei: eu também gosto de mato. Me
mudei e passei a contemplar as daninhas da janela da cozinha com o mesmo
respeito que se deve ter por qualquer vegetação nativa. Em pouco tempo aquele
espaço sem cimento passou a ser habitat das lagartixas gordas que passeiam por
todos os cômodos da casa sem me incomodar, nem sujar. E o meu senhor dono da
casa captando que somos semelhantes, perguntou-me alguns dias atrás: "você
gosta de xananas?" "Sim!", respondi interessada. "Pois vou
deixar umas pra você plantar no jardim." Até então não sabia que alguém
plantava muda de Xanana, a flor oficial de Natal que nessa época de chuvas
cobre canteiros e beiras de calçadas de lençóis da florzinha albina. Seu Lamuel
planta, e acha elas lindas e quer dividir o seu prazer estético com a nova
inquilina. E hoje, Dia internacional da mulher, ao abrir os portões dei de
frente com o ramalhete de xananas que o senhor atento à flor, para a qual
poucos se dão o trabalho de olhar antes de meter a enxada em suas raízes, havia
enfiado pelas grades. Jamais recebi presente tão encantador, e de um senhor
cujo interesse é tão somente partilhar comigo a graça de ser belo e comum como
é a flor de Xanana.
Ana
Barros
Natal, 08/03/2018.
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