Um dos verbos mais repetidos na
atualidade é empoderar, palavra pouco
conhecida que, entre outros contextos, define o status da mulher contemporânea
que se dá poder para além das reivindicações históricas: trabalho e igualdade
de gênero. A mulher empoderada não
reivindica, ela se dá o poder de empoderar,
de desregrar. Alheias à ideologia que
formou gerações de feministas entre as décadas de 1960 e de 1980, vestidas ou
nuas, no grito das ruas ou no silêncio
das redes sociais, jovens militantes desmantelam a arquitetura do poder – macho.
A batalha, travada no campo da fala
[corpo], não mais no discurso politizado, tem causado estragos na honra e na moral daqueles que não sabem existir [nem se comportar] fora do
mundo feito por e para eles. É, pois,
no escárnio dessa honra e dessa moral, muitas vezes utilizando as mesmas
palavras atiradas contra elas, que as mulheres encontraram a forma nem um pouco
recatada de apeá-los do poder, ainda
que este tenha sido conquistado numa época em que o discurso fazia parte dos
mesmos argumentos defendidos por feministas e cientistas sociais no combate à
desigualdade de gênero. Um exemplo recente merecedor de análise desse
estranhamento de falas entre gerações é a nova música de Chico Buarque, Tua cantiga.
Fiel ao estilo que usa metáforas
para falar do cotidiano de mulheres submissas, ora aos caprichos de seu macho,
ora à sensualidade que condena ao tédio, à cama, pia e mesa, Chico recebeu o
seu escracho via redes sociais de
feministas que consideram a letra de Tua
cantiga apologia ao adultério (Quando
teu coração suplicar/ ou quando teu capricho exigir/ largo mulher e filhos/e de
joelhos/ vou te seguir) num momento em que moças e rapazes do século XXI
riscam de suas relações o termo “adultério”, bem como todos os compromissos
celebrados socialmente como ideais por unir e manter sob o mesmo teto homem e
mulher, mesmo infelizes. A crônica de Chico parece não dizer nada mais além da
repetição dramática e vazia de um romantismo que, se vive ainda, sobrevive
longe do feminismo contemporâneo no qual as
vadias nada têm a ver com Geni, Teresinha, Lily Brau... tampouco com “o herói esperado por toda mulher”, “o
cara certo”, celebrado por outro músico, Roberto Carlos, em Esse cara sou eu.
As redes sociais são os meios de
divulgação e mobilização dessas moças que, em vez de queimar sutiãs em praça
pública, usam a fala como instrumento de guerra. Libertas do pudor e obrigação
de esconder o corpo exibem os seios, se pintam com frases inauditas e desatam a
língua não deixando nada por dizer, mesmo que sejam chamadas de “vadias”. Aliás, apropriam-se do insulto nada
civilizado, dito por um policial em Toronto, para criarem a Marcha das Vadias em 2011. Em vez de
debates públicos acalorados, campanhas de conscientização, oficinas
psicanalíticas com o intuito de unir homem e mulher, elas agem de imediato na
destruição de uma fala e atitude que, em vez de submetê-las, provocam escárnio
e revide ao usarem a mesma arma do inimigo, o verbo, para derrotar, destruir. Os
exemplos vão desde a quebra de unanimidade em relação ao compositor brasileiro que
mais decifrou poeticamente a subjetividade feminina, Chico Buarque, ao discurso
anacrônico de um presidente da República, semelhante ao patriarca do Velho
Testamento, à armadilha pronta para pegar cafajeste curtido no vício do poder
da fama e da grana.
SORORIDADE
Há hoje uma tendência de moças tão
ou mais talentosas que os rapazes da mesma profissão, seus concorrentes. Não
são raros os exemplos nos quais, deliberadamente, elas excluem os colegas em
nome da união e aliança entre elas. O estrago é grande e ressentido. Além de
perder clientes, os rapazes [machistas e não] são punidos de forma prática e
sem o feminismo engajado do século XX. Entre as profissões contemporâneas
podemos constatar uma adesão significativa de jovens feministas ao mercado das
artes, em particular artes visuais, tatuagem e música, estas com um histórico
de ocupação de espaços públicos que coincide com a quebra de barreiras entre a proteção do lar (sagrado) e o perigo da rua (profano). São as meninas
que foram para a rua com os meninos quem mais assume o poder da fala. Sem
complacência e leitura de teóricas clássicas que as façam questionar – palavra em desuso quando o que vale é a ação imediata e
não o discurso – as condições culturais e existenciais do companheiro de “trampo”, surge um tipo de acerto de
contas não com o patrão opressor, mas com o boy
parceiro de visibilidade em espaços até então de domínio exclusivo dele. Apesar de ter qualidade e reconhecimento
social às vezes celebrado como feminista, esse
boy se vê às voltas com o mesmo e antigo
drama de trabalhadoras excluídas não pela má qualidade do trabalho, mas pela
condição de gênero.
EVA ESCONDE A MAÇÃ
Olímpia conheceu Apolo na quebrada. Empatia à primeira vista. Ele
20, ela 18. Os dois gostam de Rap e logo começam os ensaios no quarto da boy. Não demora um dia o namoro começa no meio de poesias carregadas de
lirismo real e cru da periferia, onde os dois compartilham política, arte e afeto
com os moradores das ruas marginalizadas.
E foi no ritmo de letras surgidas no calor da raiva coletiva que o casal
chegou ao primeiro ano do relacionamento
sério [publicado no perfil do Facebook dos dois] sem maiores abalos, senão
aqueles provenientes lá de fora. A moça agora tem 21 e o rapaz 23. Moram num pequeno
apartamento de dois cômodos e já não fazem sexo nem cantam juntos. Olímpia
descobriu que é feminista ao entrar num grupo do Facebook. Apolo, que até então
dividiu o mundo privado apenas com a companheira, não compreendeu. Perdeu seu
amor e as fãs: “feministas curtem
feministas” diz ele magoado. No passar dos dias, enquanto Olímpia cumpre a agenda
cada vez mais cheia, Apolo, sem agendamentos, sem parceira e ameaçado de ter os
culhões cortados de tesoura a cada instante
que acessa as redes sociais, nas quais Olímpia tem milhares de seguidoras e
divulga vídeos, em um dos quais zomba da falta de habilidade dos homens na performance
do sexo oral, cuida da casa e dos gêmeos Hermes
e Afrodite.
FECHEM AS PERNAS
Nos estilhaços do poder macho cristalizado
há invisível e concreto efeito dominó na queda de valores até então inabaláveis
pela sociedade homem. Aqui o exemplo
sai da exclusão de gênero e entra na área dos costumes. A mulher do século XX jamais
esquece a exortação moral carregada de malícia repetida em seus ouvidos desde a
hora em que nasce ao instante que morre: “feche
as pernas! você não é macho!”. Pois bem, fomos severamente obedientes e
passamos séculos de pernas fechadas enquanto machos abriram as suas e dali
jorrou esperma, e ali prenderam corpos, mentes, emoções, espaços. Recentemente
cidades como Madri, Filadélfia e Seattle,
atendendo reivindicações das mulheres, lançaram campanhas para que homens
fechassem as pernas no transporte público onde ocupam quase todo o assento
deixando as passageiras encolhidas e constrangidas na parte que sobra depois do
passageiro se acomodar de pernas abertas. A campanha poderia ser vista como
assédio moral por algum defensor de homens incomodados em ter de imprensar o saco em nome do conforto das mulheres
que resolveram ocupar o seu espaço [também] dentro do transporte urbano. O
recuo no banco e o constrangimento em ver que todos no veículo leem o cartaz e censuram
a postura até então aceita como “coisa de
macho” fazem com que os homens trilhem dolorosa e lentamente o caminho pelo
qual retornam as mulheres que conquistam a liberdade de abrir ou não as pernas
dependendo do lugar ou situação em que se encontram.
MORTO VIVO
Dia Internacional da mulher, 2017: o
presidente Michel Temer diz ter “absoluta
convicção do quanto a mulher faz pela casa, pelo lar. Do que faz pelos filhos.
E, se a sociedade de alguma maneira vai bem e os filhos crescem, é porque
tiveram uma adequada formação em suas casas e, seguramente, isso quem faz não é
o homem, é a mulher”. As
palavras de Temer nada dizem às gerações nascidas entre final da década de 1970
e início do século 21, filhas e filhos de uma contracultua das ruas politizadas
e em discussões libertárias de movimentos artísticos, feministas, ecológicos,
de negros e homossexuais. Graças aos filhos dessa sociedade ainda ingênua, mas
não submissa, constatamos hoje uma atitude diferente da subjetividade teórica e
do desabafo psicanalítico, autoanálise recorrente daqueles doutrinados na
escola do medo e da repressão sexual. Para quem, então, o presidente Temer fala
se hoje o muro que separou o fazer doméstico do fazer da rua está quebrado? Para
quem, se o tema já evoluiu tanto que atinge um nível de liberdade individual
não mais regulada entre dois gêneros que deviam obediência a papéis antagônicos?
A fala superficial de Michel Temer no Oito
de março é a prova risível do poder que o fez e o mantém morto-vivo. O poder fálico e senil que
finge virilidade na sociedade que descobriu que ele pode ser ela, que ela pode
ser ele, ou ainda que, não existe ele, não existe ela até um ou outra [ou os
dois em um só] ser afirmado.
Ainda não totalmente exorcizado o fantasma vagueia na perspectiva
feminista radical que não faz concessões a discurso mentiroso tampouco sorrir ao
charme cafajeste do velho galã derrotado pelo tempo e exposição impiedosa do segredo que imaginou morrer com ele, pai de família e homem de bem. Para ilustrar, recorro aqui a dois exemplos
protagonizados por mulheres com atuação na televisão e independência para
escancarar segredos de alcova. O primeiro caso, bem resolvido no campo da
ironia, foi a resposta dada pela atriz Taís Araújo da TV Globo. Otaviano
pergunta a Taís, que é negra e casada com o ator Lázaro Ramos, também negro: “qual é o seu cabelo que o Lázaro mais
gosta?” Em princípio a resposta de Taís parece desnecessária diante da
futilidade da pergunta. No entanto, após ver a repercussão negativa do assunto
ser tratada com riso e maturidade por jovens empoderadas nas redes sociais, compreendemos a postura de Taís: “Tem isso?” Esse “tem isso?” não é para mulheres crescidas, diminuídas e envelhecidas
sob o olho do macho que decide tudo, até o penteado adequado. Taís, irônica sem perder o bom-humor ao perguntar “tem isso?” expressa a educação de um
grupo de mulheres que escolhe para companheiro o homem que respeita as
individualidades. E com o arremate de quem não deve nada a ninguém, Taís
completa o raciocínio de empoderada: "eu não sei,
porque eu sempre me preocupei com o cabelo que eu mais gosto".
O segundo
exemplo é o mais infeliz entre os acontecimentos envolvendo gênero em redes sociais
em 2017. O ator José Mayer, veterano macho alfa de novelas da TV Globo, seguro
de que as garotas do meio artístico ainda granjeiam favores de galãs do porte dele para subir na vida, deu com os burros n’água ao lançar seus flácidos
tentáculos sobre uma jovem figurinista contratada da emissora.
Cansada dos
assédios sexuais do senhor ator de 67 anos, Susllem Tonani, de 28, resolveu ser
a primeira fêmea alfa a dizer um não bem
alto ao galã que guardou a sete chaves os troféus
conquistados na cama. “Vaca!” gritou Zé
Mayer revoltado com a rejeição da moça para todos ouvirem no set de filmagem da
novela na qual ambos trabalhavam. Ali quebrava o pacto de silêncio entre caçador e sua presa. Mais uma vez uma fêmea empoderada
mostrava que o tempo presente é daquelas [e daqueles] que não têm segredos. Que esconder e sentir vergonha
de homens que abusam do poder da força, do dinheiro ou status já não tem
respaldo [em grupos] que os ignoram. Susllem deu o recado claro e escandaloso: “Acessei todas as pessoas, todas as
instâncias. Contei sobre o assédio moral e sexual que há messes eu vinha
sofrendo”, disse na ocasião ao blog Agora
é que são elas, do jornal Folha de São Paulo.
VADIAS
Para
concluir este apanhado de exemplos capazes de enfurecer feministas clássicas
que acreditaram na possibilidade de igualdade de gênero, não podemos esquecer três
acontecimentos de grande escárnio entre os internautas atentos à narrativa que
vai além da igualdade de gênero. Na complexa comunhão da diversidade encontram-se
as contemporâneas vadias e o LGBT – Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Transexuais. Pois bem, num ambiente mix no qual atitude imediatamente vira conceito, não se aceita
passivamente uma imprensa que insiste no discurso de poder exclusivo do homem
hetero, branco e monogâmico. Aqui temos o primeiro caso. Este, diz respeito ao
machismo adulador da revista Veja de 18 de abril de 2016 com o qual o periódico
tece elogios às qualidades da primeira
dama Marcela Temer logo após o marido tomar posse como presidente do Brasil em
agosto de 2016: “Bela, recatada e do lar”,
diz a manchete reportando-se ao modelo ideal de mulher “atrás de um grande homem”, no caso, Michel Temer. Se a revista
pensou enquadrar as vadias e, em
particular, a ex-guerrilheira e presidente cassada Dilma Rousseff, cuja
biografia de atuação às vezes ao lado, às vezes à frente, jamais em situação
inferior ou atrás de um homem, pensou errado. De novo o escracho nas redes sociais mostrava o anacronismo dos argumentos e
enterrava a pretensão, não tão velada do semanário, de retorno à “casa de boneca” e à histeria como
ocupação e condenação à mulher. Em uma das muitas intervenções, a feminista
Nathalí Macedo escreveu em artigo no DCM – Diário do Centro do Mundo: “Marcela Temer é a figura do retrocesso feminista e a Veja
parece ter orgasmos com sua mera existência”, diz a jovem militante para alfinetar mais adiante na
comparação, à qual usa a mesma metáfora machista que um homem utiliza quando reconhece
uma mulher de poder não com igualdade social de gênero, mas com igualdade de
atributos ao macho de pau duro: “Dilma é tudo que o patriarcado não quer
(...) No bom e velho nordestinês: uma mulher de grelo duro”.
MOSTRE À MÃE DELE
Com a memória [do computador] cheia
e a paciência também, a modelo de peças íntimas Rebecca
Mcgregor, resolveu dar um basta às fotos de paus
que enchiam sua página, na qual posta fotos usando acessórios de lingerie.
Tomada de surpreendente iniciativa, a jovem fez um print da imagem de um desses homens pelados e disponíveis e compartilhou na página da mãe do malandro pós José Mayer verbal com a seguinte frase: “eu acho
que você precisa ter uma conversa com seu filho sobre como abordar mulheres”. Mais adiante ela ensina como as amigas da
rede social devem agir em casos semelhantes: “você está cansada de
fotos de pênis não solicitadas mandadas por estranhos? Não quer conversas
vulgares com quem você nunca falou? Faça como eu, tire um print da tela e envie
para a mãe deles”.
Pronto, o caso terminou diante dos olhos da mãe que – possivelmente conectada a
alguma rede doutrinária da moral da
família e dos bons costumes, longe das ruas e das redes sociais nas quais estão
homens iguais a seu filho e vadias de
todas as tendências comportamentais –, apagará o seu perfil da Internet?
Tentará levar o filho até o bispo para livrá-lo do diabo vestido de calcinha e
sutiã? Ou vai juntar-se às irmãs em Cristo num ritual de cura e libertação em frente à casa da modelo, onde queimarão as
fotos satânicas de Rebecca, objeto de
sedução do pobre rapaz? Todas as
alternativas podem ser verdadeiras. A não ser que a mãe do rapaz seja empoderada e se junte às demais de
tesoura na mão aos gritos de “corta o pau
desse canalha!”.
SANSÃO CASTRADO
Após décadas de políticas [e instituições] criadas para o
combate do machismo e suas sequelas, jamais se imaginou que a igualdade de gênero, palavra de ordem
de feministas militantes, se desse pela palavra, não na retórica e outros
mecanismos usados no passado no intuito de fazerem os homens entender que
[socialmente] são iguais às mulheres, mas pelo uso da mesma linguagem ordinária
com a qual homens sempre se dirigiram à mulher quando quiseram demonstrar seu domínio
e desprezo. Em todos os fatos narrados aqui a disseminação da fala em redes
sociais é a arma mais poderosa usada tanto por homens, para atacar, quanto por
mulheres, para derrotar o inimigo com o mesmo ferrão. Porém, há uma grande
diferença entre os dois guerreiros iguais,
pelo menos na língua. Enquanto os primeiros avançam cuspindo vingança e
ódio, elas, sem mais pertencimento, melodramas, nem discurso de conscientização,
lançam de volta a saliva envenenada, não do mesmo ranço, mas da ironia das
mesmas palavras usadas agora para castrar
o inimigo. O exemplo mais simbólico no sentido de castrar o poder do macho
com a língua vem da resposta da ex-namorada do deputado federal Eduardo
Bolsonaro, Patrícia Lélis. Em seu status do Facebook ela dá o troco ao desabafo
de macho ferido:
Eduardo Bosonaro: “Eu começo a ‘entender’ a
importância da figura masculina na vida de uma mulher quando minha ex-namorada
que já se declara feminista é vista em uma balada LGBT acompanhada de um médico
cubano, usando uma roupa vulgar e, como se não bastasse, rebolando até o chão.
E ainda posta isso na internet, como se fosse uma atitude louvável. Lembrando
que antes do feminismo ela andava com roupas discretas, não rebolava até o
chão, e namorava comigo. #FeminismoÉDoença”
Patrícia
Lélis: “(...) Sabe qual foi o principal motivo que nos levou ao término? Eu
descobrir que eu sou dona de mim, descobrir que sou um ‘mulherão da porra’, e
quando descobri isso, você ficou com medo. Moleques não aguentam mulheres
fortes. Só para terminar esse post: esse médico cubano que você tentou
menosprezar nesse post, além de ser um baita ‘homão da porra’, me leva pra
balada, não reclama das minhas roupas e maquiagem, dança comigo, e cá entre
nós: tem uma ‘pegada’ que você nunca teve na vida. Beijo, Eduardo. E vê se para
de me ligar e mandar mensagens dizendo que tá com saudades, tá chato já!”.
Patrícia
é conhecida das redes sociais desde quando denunciou o deputado federal Marcos
Feliciano por tentativa de estupro. Na época das denúncias, a alta cúpula do
PSC, partido do deputado e do qual a jovem fazia parte, se mobilizou para
abafar o caso e criminalizá-la. Patrícia chegou a receber propostas financeiras
de líderes políticos e religiosos para permanecer em silêncio. Porém ela seguiu
com a denúncia no Supremo Tribunal Federal, instância na qual políticos em
mandato são julgados.
FIM DO “HOMÃO DA PORRA”
A resposta ferina e bem humorada de
Patrícia é arma eficaz no abate do inimigo em tela digital. Não há notícias de
revanchismo do namorado magoado. O silêncio nas redes sociais após o ocorrido
pode ser sinal de recuo do macho ferido, sem, no entanto, recuar da postura
dominadora perante a próxima namorada [vítima].
Porém, da mesma sociedade que vem a jovem feminista, também vem o jovem
com a mesma necessidade de negação de um poder viril e opressor que não educa
homens nem mulheres para serem como são. Cansados de reproduzirem a dureza
afirmativa do macho, homens sensíveis a uma existência distanciada de
estratégias de guerras insanas de
homem contra mulher, começam a debandar da nau de paus. Basta acompanhar as postagens nas quais elas e eles
compartilham as mesmas opiniões, a mesma negação de um poder que foi derrotado
tanto na vida de um quanto na vida do outro. Não encontrei ilustração melhor
para complementar o escracho carregado
de ironia e realismo de Patrícia Lélis do que o artigo A masculinidade que não queremos, de Fábio Mariano da Silva, publicado
no blog Justificando. Fábio conclui
seu texto com o gesto suave e agônico do macho em seu crepúsculo: “Homens
precisam descentralizar o olhar sobre suas práticas cotidianas e saber que
comportamentos que foram social e culturalmente construídos precisam ser revistos
em todos os âmbitos e de maneira interseccional de forma a desnaturalizá-los
com vistas à construção da igualdade como fonte de benefício para todos e
todas. Como disse no início você talvez já tenha visto esse texto, mas mais do
que isso, o que temos visto é o tal homão da porra e isso não queremos mais”.
Ana Barros
Natal, 02/07/2017
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