terça-feira, 17 de junho de 2014

ROSÁRIO



Quando eu quis ter uma casa logo descobri que não sabia o que era ter uma casa. A primeira que encontrei disse “é esta”. Tinha janelas paredes portas logo era uma casa. “Mas é uma casinha popular de conjunto” observam as vozes sensatas.  E eu sabia ser popular no conjunto... Fingi não ouvir e comprei – a casa. Plantei o jardim e sentei com os vizinhos. Mas o dia amanheceu e a casa e eu havíamos fechado... Do monte de folhas podres e brotos murchos chegou Antônio. Nem bem olhei dentro dos olhos dele pensei “este é o ideal mais que perfeito”. Flores colhidas no mato Mozart Wagner blues e um cálice de conhaque.  E o dia outra vez veio e desmontou o jogo matando a criança. Ainda negra de luto e de ontem conheci João que nada tinha a ver com Antônio tampouco com a minha casa. Algo que ninguém viu – vi em João...  Este “É” eu disse. Mas de manhã contemplando o rosário João era tão vago quanto os canteiros da cerca pobre.

Ana Barros
Natal, 30 de março de 2003.

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