Para aquele que é atento às contingências do aqui e agora, qualquer objeto, real, imaginário ou abstrato, que cause impacto, ou “espanto,” como quer Ferreira Gullar, logo se transforma em imagens fantásticas do mundo circundante e, conseqüentemente, libertação. A arte representa essa magia do movimento em direção à redenção do trágico, do drama existencial, do caos contínuo e atemporal da condição humana. O vídeo Sampa Graffiti (http://www.youtube.com/watch?v=-IAX1iDoBgk&feature=related), do artista de rua paulistano Cavera, nos gratifica com uma dessas raras demonstrações em arte. “O anjo caído,” stencil aplicado na parede interna de uma ruína da grande São Paulo, é a promessa do gozo dos falidos, dos oprimidos e excluídos de toda sorte. O anjo caído é a Pietá de Cavera. Como ele diz, nem sempre o anjo é uma coisa boa, mas às vezes é a representação da tristeza, do desamparo. O local e atmosfera encontrados pelo artista para deixar a sua inquietação em busca de resposta não podiam ser diferentes das ruínas de casarões onde perambulam os falidos das grandes cidades. O anjo caído de Cavera repete as grandes intuições que falam do mito da hora extrema. Intuição máxima e causadora do mais profundo sentimento de paixão pela dor do homem. Aqui o artista andarilho e cheio de mundo, que vadiou e sentiu todos os lugares e soube bem definir o que elevaria ao máximo da estética, dá um corte, faz sua escolha e transmuta com ela. É um bailado da vida contra a morte. Um bailado do anjo caído contra a negação desse mesmo anjo. O artista, com apenas vinte e três anos, já sabe o que quer da arte: uma afirmação além de qualquer um dos anjos – bom e mau.
Ana Barros
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