domingo, 22 de agosto de 2010

Medusa

Observava seu rosto quando me detive na imagem
tantos anos a mesma e só agora completamente dada.
Confirmava que o tempo expõe nossos vícios
à contemplação que suspeitou algo escondido,
criando lodo no fundo até um dia irromper na superfície
sem mais cuidados nem pudor. Você não me surpreendeu...
Desde o primeiro momento sabia que nos veríamos de frente para o espelho.
Você com o semblante alterado, a voz raivosa, a pele
marcada pelo cinismo cruel dos velhos míopes.
Eu a esconder o lado ruim que agoniza no subsolo e morre antes do gesto.
Pensei no encontro que teríamos na casa de R
e não senti vontade de ir nem de ver de novo a imagem
gasta que hoje sei por que nunca enxerguei de frente.
Talvez receasse encontrar a verdade
revelando-se aos poucos a uma percepção esquiva
sempre a desviar do foco quando a nudez é completa.
Mas a sua nudez era tão visível quanto a minha coberta.

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