Era sempre a mesma sentença: “Estás excluída!” E um dia, lá estava eu de frente para o computador. Naveguei. Li tudo que por hábito selecionaria de um jornal, revista ou livro; desliguei o aparelho. “Mas quê! Já terminaste? És mesmo resistente!” Não compreendi. Aliás, como resistente se desde criança leio tudo o que me chama a atenção? Não era eu um daqueles privilegiados que leem mais de dois livros por ano? Então, resistente a quê? Será que era porque não compreendia imagens? Excluída de que se encontrava meu pensamento contemporâneo e fugaz tanto em meus vizinhos como nos livros, revistas e jornais impressos ou virtuais?
Certo dia, ainda com aquela sensação de que poderia ser uma excluída, fiz uma viagem pelo interior, serra verdejante, perfumada de flores e brotos diversos. Conheci seu Antônio, velho robusto, músculos rijos de tanto rasgar a terra e colher seus frutos. Ao me aproximar diminui o passo e observei longamente aquele homem baixinho, de calção de algodão cru e botinas de couro de vaca nos pés gretados, que se abeirava do chiqueiro das cabras com uma foice numa das mãos. Num salto matreiro, decepou o galho da mangueira e jogou às cabras famintas.
O silêncio ali era diferente, compacto, quebrado apenas pelo balido e o badalar fraquinho dos chocalhos pendurados no pescoço das ovelhas. O mundo se resumia àquele velho e suas cabras; mundo de ausência de tudo o que é civilização e ao mesmo tempo presença mítica de tudo o que promete a civilização. Pois não eram a liberdade e a inclusão, os mais altos valores da sociedade virtual, os mesmos valores daquele velho que tinha como companhia as cabras e o tempo?
Voltei para a cidade rindo dos meus amigos e de mim. Ignorávamos a dimensão das palavras liberdade e inclusão. Aquele velho tinha a inocência e a intuição necessárias à união da parte com o todo; ele era sim um incluído.
Ana Barros
Natal, 16/06/00
Ual!!!
ResponderExcluirLindo texto.
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