sábado, 30 de janeiro de 2016

A dança das agulhas



O vídeo da TV Brasil http://tvbrasil.ebc.com.br/…/uso-da-internet-e-cada-vez-mai… mostra uma das facetas contemporâneas mais analisadas por críticos da mudança de costumes nas relações humanas depois das novas mídias sociais. O destaque é para os idosos que se identificam cada vez mais com o computador e menos com os grupos de amigos formados há anos na comunidade. A reportagem fala desse perfil de idoso como regra. No entanto, principalmente no interior do Nordeste onde a cultura da oralidade e da vizinhança permanece ativa, o contato humano, sem interferência da tela e longe da solidão, permanece ativo e rico. Cooperativas de artesanato, turismo, esportes, lazer, eventos festivos e de qualidade de vida, sem esquecer as limitações de acesso e de políticas públicas ainda em curso, são itens na agenda de muitos velhos no Brasil. É um movimento dinâmico e com possibilidades de mudança à medida que novos idosos vão ocupar um espaço cada vez mais atual, não só em relação à tecnologia, mas em função do nível cultural e político da população envelhecida. Hoje há que se observar que as gerações de idosos expostas em espaços públicos remetem-se a épocas do patriarcado, da repressão sexual, machista e, mais do que em todos os tempos, de inferiorização da mulher e do idoso. Muitos destes ainda buscam a rua como adolescentes que foram castrados de dar vazão aos impulsos próprios da idade. A dança, os jogos, o namoro e os passeios entre eles, vividos com a intensidade juvenil desbloqueada pela moral que se rasgou de tão imprestável no corpo que joga fora os princípios de culpa e pecado, jamais serão substituídos por informações e imagens frias de um computador. Receio, sim, que a minha geração, daqui a pouco velha, seja ela propícia a essa clausura virtual, pois, infinitamente mais livre, racional, culta e independente que avós e mães, se não tiver construído o tempo e o espaço para o contato com pessoas, longe do mundo da técnica e dos negócios, sobrará a ela certamente a cadeira de frente ao monitor, no qual vê tudo sem nada tocar. Talvez tenhamos que aprender com nossas mães, e demais idosos, a arte de fazer crochê com os moldes passados de mão em mão, a arte da conversa na rua, a arte da dança e do riso mais do que a arte do isolamento, que pode ser boa, e é, para criar, aprimorar conhecimentos, desenvolver habilidades, sarar mau humor, jamais para ser um com os outros.

Ana Barros
Natal, 12 de janeiro de 2016.




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