Os retratos e a
necessidade que os mantém a decorar a sala mesmo à
distância que afasta sem matar guardam a impressão do gozo próprio dos momentos
de tensão anterior à calma que vem dos movimentos de desatenção com o que esconde o desejo idealizado. Mas o que tem a ver o fracasso do desejo idealizado com as
fotografias amarelas e a minha serenidade? Talvez o fato de não aprisionar
lembranças de algo apesar de tentar em vão agarrá-lo antes de engolir – o tempo.
Ao olhar de novo o retrato com manchas a cobrir a camisa de linho branca do
homem que parece chegar de uma noitada – há ressaca nos olhos – penso nas
noites insones que passei debruçada à janela tomada de angústia à espera de um
vulto cambaleante na imersão da noite. Ou ainda quando já era dia e o sono
apoderava-se do corpo amolecido na morbidez do álcool, eu, na ponta dos pés,
pontilhava a penumbra das cortinas descidas no silêncio tumular da ilusão em
que o objeto do meu desejo se demorasse trazendo com ele a calma de um coração
baqueado na ausência do conforto morno dos que dormem tranquilos sob os mantos
da indulgência. E os retratos oxidados da parede da sala são a indulgência
emoldurada que me deixam com as mãos vazias e a calma que silencia
diante da imagem gasta.
Ana Barros
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