quarta-feira, 27 de outubro de 2010
A dança do tempo
A imagem não é só para mim, mas para os demais. Uma vingança? Você está jovem, loura e ricamente vestida. Veio à tona um fato ocorrido há dez anos quando você, abandonando as crises e o tédio na cidade grande, recolheu-se numa simples casa da montanha. Não era mais nada, apenas uma senhora em paz. Enfim, o espírito emancipado da carne. Não confiei na decisão tão extrema, nem tampouco ter como confidente o cavalo Azulão e deixar os cabelos naturalmente pixains e inteiramente brancos – na imagem eles estão alisados e cuidadosamente tingidos. Quando se descobriu uma velha, você apagou o espelho. Achou conveniente dar um basta no tempo e jogar a culpa na burguesia, que tudo compra, inclusive a simulação do eterno. Fez uma faxina nos acontecimentos e amarrou-os na boca do vento. Na imagem, você passeia sem peso na superfície. Fechei a mensagem sem deixar de me reconhecer na imagem, eu, outra velha, perto, no burburinho, dançava.
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