O pé de jasmim à beira do caminho aonde vou
quando a vontade quer 
insiste exibir flores
brancas.
Incomoda o meu olhar nublado
a infância retardada das
pétalas com raios de sol.
Apesar da terra vazada
pelo focinho dos porcos 
lá estão elas competindo
com a luz quem branca mais. 
Lembro sem saudades que
um dia fui jasmim...
Mas o fogo que acende
as flores do caminho 
é o mesmo que cegou os olhos
do meu arbusto. 
Acompanhei o desaparecimento
do verdor 
sem jamais sentir o
roçar de um inseto qualquer – 
meu jasmim morreu na vigília do Farol.
Tivesse a demência daquele
à beira do caminho florava:
florava, florava,
florava... Porém 
tenho memória... e olhar nublado.
Natal,
21 de outubro de 2020. 

 
