domingo, 3 de maio de 2020

Fim de festa


Morro ainda hoje
A luz vermelha atravessou meu corpo e
Os dedos sangram entre os cacos da luva quebrada
Todos foram embora deixando para trás o vinho derramado
Eu lavo as mãos...
A pele ressecada de idas e vindas à porta
Renovam a certeza de que
Morro ainda hoje
Outra vez lavo as mãos e a coroa de vírus desceu no ralo
Alguém voltou a me chamar...
Estou ocupada em limpar a mesa
Repetem aos gritos: “Antônia!!!”
Deixo chamar... Alguns minutos se passaram
O silêncio ocupa espaço enquanto enterro os restos
E aí, depois de décadas enfiado no estrume, encontro
O meu besouro azul

Ana Barros

Natal, 21 de março de 2020
(No isolamento da Covid-19)
   

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