E eu a saltar fora do
laço antes do aperto fatal ri da malandragem diante da morte e mais uma vez
dava uma chance à mentira que equilibra para mais adiante balançar a corda e de
novo jogar à terra o fardo humilhado. O fardo fez um nó nas costas e o pescoço
grosso solta o enforcado que, feito um cão velho e pulguento, ergue-se das
cinzas já nem um pouco desprezíveis, sacode o pelo e deixa cair os carrapatos.
Até gostaria de novo pranto... Força um choro, esfrega os olhos, geme... Mas é
tarde e as costas doem no lugar das crateras calcinadas lembrando que devo
levantar, pois um resfriado me levaria ao buraco raso. Ergo-me e vou tomar o
meu copo de café com leite. O jornal velho e amarelo de antes de... Oh, perdi
os óculos e os jornais esquentam o forro do meu quarto. Os jornais, o café com
leite quente, a pinga depois de todos e nada mais me tira a atenção a não ser
de novo a lembrança de que não lembro mais. Por que não sentar-me à mesa do Café
e lamentar com algum daqueles homens matinais que sentam ali todos os dias com
o mesmo bocejo e o cheiro de suor da noite? Dizer que o sol abriu meu crânio e
queimou o labirinto. Mas esqueci quando vi os dois camaradas de frente um para
o outro calados olhando para nada. E eu tenho nada nos miolos. Entornei o copo
de pinga e senti as lágrimas quentes e chorei porque queimava dentro e eu
estava vivo e sentia o que além de mim é vento
Ana Barros
querida, seu surreal desenha o cotidiano do desespero da impossibilidade de mudar o equívoco. Desculpe a verborreia ensandecida...a culpa é da leitura do seu belo (belo?) texto, minha Kafkaniana amiga!!!
ResponderExcluirObrigada, Percival! Fico feliz e orgulhosa de sua leitura: "desespero da impossibilidade de mudar o equívoco."
ResponderExcluirBeijos,
Ana