quarta-feira, 1 de junho de 2011

Madalena

Hoje decidi ficar em casa Há quanto tempo não fico em casa... longe das palavras Sem barulho Sem dialética Em silêncio e na surdez beata saborear a solidão que enterrei na sala de jantar Estou sem voz e todos estão longe... Quis assim Sem ruído E como é bom alongar na cama nua e só Quantos olhos tive por perto adivinhando... Hoje estou nua e ninguém pra fingir que não estou nua Toco nas feridas sem sentir o odor Estão menos podres do que quando implorei a você cicatrizasse Perdi o nojo e hoje apalpo como pedaço nobre de mim Em casa e em silêncio deixei de ouvir os infortúnios que, somados aos meus, perderam eco Batem a porta... Gritam meu nome... Chamam... Alguém soluça... Conheço bem o gemido Por que não vou? Estou surda, e muda O grito é meu: um sopro sem forças pra derrubar... Tantas vezes morta por ele... Mas hoje o silêncio é sólido... e a flacidez da minha alma

Ana Barros

2 comentários:

  1. Madalena, sersinho sofrido!,
    sinto que esse naufragar e desesperançar obriga a todos nós mergulhar perdidos nesse afogamento das identidades mórbidas...deve ser para que na escuridão do abismo profundo uma Luz nos impulsione para a superfície da salvação... haverá sempre um alguém nos aguardando no amanhecer do novo por estas praias desertas.

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  2. Olá, Percival! É isso mesmo que acontece com todos nós, lúcidos até o desespero. Madalena é sem esperança... Ela conheceu o inferno e o céu é o retorno à inocência estraviada, cujo caminho é árduo e solitário. Quem sabe ela possa chegar ao final da caminhada numa dessas praias desertas e aí reencontrar esse "alguém"?
    Beijos,
    Ana

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