Memória de flor
Nasci flor
Cheiro e escuta
do útero de minha Mãe:
- Ô de casa!...
Foram-se todos
Antes, porém, comeram a placenta
e enterraram as cinzas do menino
deixando para trás com o sal da urina velha
o penico de ágata branco, o bule azul furado com o pé de mirra,
Os cacos da panela de barro, o jirau com as
touceiras de doze horas e o retrato boiando no lodo
Os olhos vazios de tempo dançam nas horas...
já não veem o oratório ser comido pela broca nem
o sino repicar missa dos mortos
Esquecidos, os objetos adubam raízes
memória de flor
Ana Barros