domingo, 26 de janeiro de 2025

 Memória de flor 

 

Nasci flor 

Cheiro e escuta 

do útero de minha Mãe: 

- Ô de casa!... 

Foram-se todos 

Antes, porém, comeram a placenta  

e enterraram as cinzas do menino  

deixando para trás com o sal da urina velha 

o penico de ágata branco, o bule azul furado com o pé de mirra, 

Os cacos da panela de barro, o jirau com as  

touceiras de doze horas e o retrato boiando no lodo 

Os olhos vazios de tempo dançam nas horas... 

não veem o oratório ser comido pela broca nem 

o sino repicar missa dos mortos 

Esquecidos, os objetos adubam raízes 

memória de flor 

 

Ana Barros