quinta-feira, 2 de maio de 2019

Alfinete da armadilha


                                                                      A Eloisa Araújo*
                       
        
Caminhava na avenida perfurada de gritos de homens maus
quando a chuva lavou os meus cabelos com os dedos finos
de Nanã. A minha mãe é um plano bruto
Além e atrás habita o pântano de onde comanda o fim e o começo
E eu sou o começo. Minha mãe é rizoma e também é morte
À noite vai à casa da velha deusa e torce o pescoço do galo
Tenho comigo o bastão retrátil que ganhei do meu padrasto
Meu pai caminha no gelo e malha ferro
Meu pai, que deita ao meio dia e sonha com ostras e pombos
É dele que guardo deserto e lâmina: Saias escondem facas
Da minha mãe não guardei nem perdi. Sou idêntica e mesma
força a modelar o barro que não endurece. Sou filha do lodo
Armadilha roxa presa no pescoço


Ana Barros
02 de maio de 2019.


*Jovem feminista de 21 anos agredida na Av. Paulista
por três homens eleitores do presidente Jair Bolsonaro.
Sete de abril de 2019