Corria entre jovens de
músculos rijos sem querer ser um deles. Sabia a inutilidade do esforço em encher
a pele do cotovelo. Foi por ele que você adivinhou o meu tempo: “ – 37!”
Não dei valor à evidência de seu interesse sobre a parte ignorada por mim por não
conhecer outra ação senão articular movimento. Aliás, completava sem pressa a
segunda volta ao longo da pista quando dei de cara com você [meu amor morto] no
passo dos jovens de vigor. Tão perto que ouvi sua respiração cansada e ofegante
de velho. A corcunda elevara-se sob a pele enrugada assim como a minha empinara
sob a pressão da gota. Paramos diante um do outro e nos olhamos com
incredulidade hipócrita. Você disse “olá menina...” com o riso cínico e o olho enviesado
para meu braço encoberto. “Quando vamos tomar um café?”, perguntou antes que eu
dissesse “olá...”. “Esqueceu que não tomo café...”, pensei e respondi com o frio e
vazio “a gente se fala...” e o deixei para trás bem atrás dos jovens corredores.
Nem bem retomei a corrida um pneu velho rodou sobre os meus pés atrapalhando a marcha.
Abaixei e afastei o obstáculo com as mãos e, sem pular sobre ele, desviei para
o lado.
Ana Barros
Natal, 02/07/2015
(concluída em 05/10/17).