Nestes
dias de santo casamenteiro a busca por um noivo faz com que encalhados e encalhadas
reforcem a criatividade para convencer divindades a fazer milagres de alcova.
Mas longe das crendices e superstições, tem quem ache que pretendentes se
encontra dependendo da hora e do lugar não havendo portanto necessidade de
incomodar os santos com pedidos mesquinhos e interesseiros. Já ouvi dizer que
um dos melhores lugares para uma profissional bem sucedida encontrar o seu homem
é o supermercado aos sábados pela manhã quando o divorciado, viúvo ou solteirão
faz suas compras depois de uma semana de trabalho nalgum escritório de
advocacia, hospital, banco ou outro local tarimbado onde brilha o ouro dos
cartões de crédito. Porém, a colega de trabalho Marília Cláudia me disse que
bom mesmo é ir ao Parque das Dunas às tardes de domingo, quando os pais classe
média e separados saem para curtir os filhos pequenos. Não, rebati
sistematicamente, é muito trabalho ter que acordar logo cedo no final de
semana, sair com a cara de solteirona ainda amassada para conquistar um homem
também de cara amarrotada e entediado por ter de ir às compras. O segundo caso?
nem pensar! Ter que sair de casa no domingo à tarde para laçar um homem que corre atrás de crianças sujas e mal educadas?
Meu Deus, seria o fim da coluna já tomada pela osteopenia.
Na
academia de ginástica de Neópolis que frequento e que tem solteironas que nem
praga, já me aconselharam procurar um namorado em Gilson Bufê, pois é lá onde se encontra a maior demanda de
divorciados e encalhados ricos por metro quadrado de Natal. Uma das
companheiras de peso para evitar o babado dos braços afirmou categórica: “Você
vai encontrar juiz, delegado de polícia, empresário, promotor de justiça”... Fiquei
de pensar no caso uma vez que Gilson Bufê
fica quase parede meia com a minha. Não custava nada dá uma aspirada na testosterona
exalada por lá. Mas, pensando bem... será? O tempo passou e eu esqueci da
sugestão das bondosas carolas do
padre Nunes, muito preocupadas em me ver sempre desacompanhada e desejosas de que
eu me acertasse com um desses encalhados ricos e fosse deixar oferendas a Deus
na missa de cura e libertação de Neópolis.
Pois
bem, o cabelo já estava grande e desbotado, era tempo de ir ao salão da amiga Tetê,
lá no Beco da Lama. Como sempre, ela me recebeu com a mesma frase: “Não me
conformo em vê-la tão formosa e só”. E, penteando os meus cabelos curtíssimos, “vamos
hoje à minha Igreja, lá você vai encontrar um amor, prometo”! “Pronto, começou tudo
de novo”, pensei sorrindo. E foi aí que fiquei sabendo que o melhor canto para
se arranjar um homem em Natal não é o supermercado, nem o Parque das Dunas, tão
pouco Gilson Bufê, mas a Igreja de Tetê, a Universal do Reino de Deus. Mais que
depressa ela me passou um cartão com o dia e a hora em que os “homens de Deus”
vão ao templo em busca de uma “mulher de Deus”. Enquanto cortava e pintava minhas
mechas, Tetê foi contando o ritual dos encalhados e encalhadas no seu templo. “Mas
Tê”, disse carinhosamente, “eu não sou “uma mulher de Deus” e gosto de homens
do mundo, desses mesmos daqui do Beco da Lama”... “Não! você tem que arranjar é
um homem purificado, limpo, um homem de Deus. Esses da rua não prestam, são
lixo”, disse cheia de convicção doutrinada. “Mas Tê”, insisti no assunto para
conhecer melhor o que vinha ser “homem de Deus”, “quer dizer que a Universal arrebanha
um monte de lixo para reciclar, ou seja, os homens purificados nada mais são do
que lixo colhido do monturo”? E ela, “Isso mesmo, mas tudo tem que ter um
esforço”. Aí foi que fiquei sabendo que o “esforço” ao qual ela se referia era
a oferenda para a Igreja. Ou seja, aquele que quiser casar para a eternidade é
só ir à Universal do Reino de Deus às quintas-feiras durante o dia todo
entrando pela noite, levar uma contribuição, quanto mais alta mais chances terá
de Deus colocar o homem ou mulher purificados no caminho dos esforçados esposos
virtuais.
Chegou
ao fim o trato do meu cabelo. Me contorci diante do espelho redondo para ver
todos os ângulos da cabeça agora ruiva, disse para concluir o papo: “Tetê,
querida, eu nem tenho dinheiro para reciclar o meu lixo nem para comprar um marido
reciclado. Por isso, quero o pastor! Ele já está pronto, é homem de Deus,
purificado e rico. Pronto, quero o pastor!”
Ana
Barros