quinta-feira, 23 de abril de 2015

A ÁRVORE DO AMOR



Há uma estética popular em nomes de acontecimentos, eventos e objetos que chamam a atenção pela importância, sentido e beleza que expressam e afirmam aos olhos da comunidade. A árvore do amor, fincada na praia da Barra de Maxaranguape, é um desses achados plenos de signos, a começar pelo abraço das duas velhas gameleiras que, na fúria do vento, se enlaçaram para proteger uma a outra. Da união secular das raízes e galhos, nativos e visitantes sentiram-se no lugar das gameleiras e a elas deram romantismo e o desejo de encontrar um grande amor, este, tão forte, eterno e divino como é o acasalamento dos galhos sob sol, chuva, vento, marés altas, marés baixas e todos os desafios creditados ao tempo, este senhor soberano que dá com a mesma ironia que tira. Mas aqueles que vão ao encontro da Árvore do amor pouco ou nada os incomodam o tempo e suas traquinagens. Basta chegar próximo às raízes expostas das duas árvores para perceber que a magia e a esperança ainda continuam valores exaltados pelos amantes do amor-paixão. É com a convicção dos crédulos que todos os galhos, finos e grossos, são amarrados com fitas de todos os tipos e materiais. Diz a lenda que quem faz um pedido de amor às gameleiras amantes e amarra-lhes uma fitinha, logo terá o desejo realizado. Um dos companheiros da excursão que nos levara até Barra de Maxaranguape, disse que com ele deu certo. Há um ano havia amarrado uma fita num dos galhos e não demorou estava casado. Porém, a experiência havia fracassado e ele agora corria para se livrar não só do laço mas também do nó, o que fez com grande alegria e respeito ao gesto que representava o seu divórcio com a natureza. Apesar do momento solene capaz de fazer recuar qualquer um em direção ao amor, ninguém se deixou levar pelo amigo malogrado. E foi assim que cada um dos companheiros do passeio catou ali mesmo no chão algo que pudesse amarrar o seu pedido de amor. Valia saco de supermercado, barbante, cadarço do tênis, corda, lenço, pedaço da roupa, cipó, galho seco e até, na falta de outras alternativas, pois não havia mais lixo para garimpar, um pedaço de fio dental. Eu não quis ficar de fora do ritual dos doidos de amor e, feito um Dom Quixote de saias tecendo loas ao seu bem amado diante de um pau e da vastidão do mar, deixei na Árvore do amor o meu pedido amarrado com algo tão real quanto os moinhos de vento do Cavaleiro da Triste Figura.

Ana Barros
Natal, 22 de abril de 2015.


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