terça-feira, 15 de maio de 2012

Amor fati


Ela criou calos – a alma
Aqui... passa bem os olhos... Sente a depressão rasgada
Não lembro qual foi o tempo em que afaguei sem tombar
em algo feio feito um calo
Tentei até suavizar usando os óleos
que encontrei na catedral:
mas a carne santa não tem calos...
Como cauterizar o que insiste em ser duro?
E a pele estirou
à seiva de pedra

Ana Barros

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O terceiro ato


A última vez em que a pedra atingiu o alvo eu não morri
Apanhei a pedra e arremessei de volta com o cinismo dos mortos
Você rangeu os dentes ao ver que o escudo
feito por mim havia se rompido e a pedra além de ferir
retornou perfurante – não por vingança – pois esqueci
de agir e os fios partidos abriram à doçura gasta
“A vez é sua” eu disse deixando o palco
Sem olhar você vestiu as máscaras e os papéis
dos meus antepassados dos meus antepassados dos meus
(ante) passados... Começava
o terceiro ato

Ana Barros