quinta-feira, 17 de março de 2011

Cheiro de seiva de alfazema

Objetos não morrem
O capacho à porta do banheiro
Não sabe o tempo que o esfrega e molha
Os utensílios da cozinha
Ordenados em tábuas suspensas acima do fogão esperam
As mãos que tocam os primeiros acordes:
Pedro dorme feliz ouvindo a mãe pisar o alho
E as latas de leite vazias enferrujaram na mesa gasta

Aroma das folhas mortas do jasmim e do Segundo Sexo de Beauvoir
Entre as teorias também mortas de Beth Friedman e Muraro
Acende a luz no canto escuro da estante junto à roupa rosa desbotada
Costurada na máquina de pedal Mercswiss decorando
A sala

À tarde as sombras provocadas pelos fungos suspensos
No muro de tijolo avermelhado
E as imagens surreais das telhas mofadas
Trazem lagartixas preguiçosos que passeiam lânguidas pelas frinchas

Mais uma vez abre a mala de madeira vinda de casa
E o cheiro de Seiva de Alfazema é carnaval fantasia papangu
Infância sem guarda

Ana Barros

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